segunda-feira, 17 de outubro de 2011

"O amor não é um ócio"



Fotografia de Helio Creston

Notas do sentir e pensar para “Ivanov”, de Anton Tchékhov e Teatro Máquina

Por Gyl Giffony


É por isso que se há de entender
Que o amor não é um ócio
E compreender
Que o amor não é um vício
O amor é sacrifício
O amor é sacerdócio
Amar
É iluminar a dor
- como um missionário

Viver do Amor - Chico Buarque


Do sentir e pensar, não necessariamente na mesma ordem

O que pode tornar o homem um ser ermo e inóspito?
A falta de? O ócio?
E o que conduz a esse lugar?

O que torna o indivíduo uma folha seca, madeira crua, árvore cortada ou cachorro pintado em tela? O que subtrai o fogo, foguete, faísca de uma vida? E o que tira o homem da letargia? O que faz ele permanecer na poltrona?
Ivanov afunda quando aprofunda sua constatação mais funda: há instantes na vida em que tudo é perda, material (a propriedade se vai) e sentimental (Anna também). E é no aparente nada, fincado na dor subjetiva que bagunça o ócio... É aí que Ivanov dá-se conta que é humano, que erra, que chora, que sente. Quando se banha em lágrimas, Ivanov parece compreender, através do sensível, aquilo que a razão insistia em mascarar: ele ama, ou pelo menos é capaz de sentir. E isso é inevitável para o personagem que escolheu o ócio ao amor.

Do pensar e sentir, não necessariamente na mesma ordem

Também é imprescindível a montagem “Ivanov”, de Anton Tchékhov e do Teatro Máquina. Espetáculo de autoria mista, pois Tchékhov pôs no papel, e o Máquina leu e criou, a partir de sua investigação desconstrutiva, as linhas, ou melhor, as entrelinhas do renomado escritor que possui nas possibilidades de subtexto uma de suas características mais referendadas. O grupo escreve então “Ivanov” lado a lado com Tchékhov, e dá a ler de forma afinada suas referências através dos elementos que dispõe na cena (elenco, iluminação, cenário, objetos, figurinos), compreendendo com lentes próprias e apropriadas as dimensões do texto russo.

A pesquisa de linguagem que o Máquina vem encampando aparece em verso e reverso. É revista ao dar uma ênfase especial ao trabalho de atores e atrizes, bem como ao buscar na precisa encenação traços épicos vinculados a acentuações dramáticas (fisicalização das emoções atrelada à técnica de contato e improvisação; descolamento estruturais de fala, intenção e movimento; descomposição do cenário, focando texto e personagens; entrada do estranho personagem Gavrila e seu tilintar de garrafa e copos; polifonias visuais e sonoras, como nos momentos em que os personagens estão por trás das cortinas ou as conversas “ao fundo”/lateral onde os atores e atrizes permanecem visivelmente durante o todo o espetáculo).

Nesse sentido, a montagem interessa-se por apresentar, e não representar. Isto se faz notório na opção por uma linha de fala cotidiana, sugerindo uma aproximação com bases de uma não-interpretação. Ressalvas feitas a apresentação que assisti (encerramento do VII Festival de Teatro de Fortaleza, no Theatro José de Alencar, com um público em média de 250 pessoas) e sabendo que o espetáculo propõe-se a um número reduzido de espectadores em tom intimista, parece necessário uma compreensão e atenção mais ampla desta escolha por parte do elenco e da direção, pois ela traz problemas intrínsecos ao ritmo das cenas e ao entendimento do texto, principalmente na esfera da escuta.

Desafiando-se, o Teatro Máquina oferece riscos a si e ao público. Maravilha! A dramaturgia de tempo esgarçado de Tchékhov (silêncios, olhares, aparentes inações) é algo que confronta o tempo frívolo e incessante de nossos dias. Aqui está mais um ponto importante da escolha que o Máquina realiza em “Ivanov”: este tempo tchekhoviano brinda-nos com uma teatralidade outra, uma vida outra, que aparenta ser de dificultosa percepção/recepção pelo cerceamento que o sistema social moderno e a ideia de civilidade tem direcionado às experiências estéticas, aquelas que nos despertam através dos sentidos e das pulsões.

Jogando com as convenções e provocando o espectador a compor sua própria dramaturgia, a encenação convida ainda o público a ver ou se esforçar para ver algumas das últimas cenas do espetáculo através de imensas portas que são dispostas à frente da platéia pelos atores e atrizes, materializando uma “quarta parede” que o espetáculo não faz uso. Atento a contextos mais amplos, este acontecimento sugere, conforme explica Nestor Garcia Canclini, que
Mudar as regras da arte não é apenas um problema estético: questiona as estruturas com que os membros do mundo artístico estão habituados a relacionar-se, e também os costumes e crenças dos receptores. Um escultor que decide fazer obras com terra, ao ar livre, não colecionáveis, está desafiando os que trabalham nos museus, os artistas que aspiram a expor neles e os espectadores que vêem nessas instituições recintos supremos do espírito (Nestor Garcia Canclini; Culturas Híbridas; p. 40).

“Ivanov” interessa-me então como artista, espectador e sujeito. Nessa conjugação, e com sentimento de felicidade e inquieto pensamento, escrevo estas linhas. O Teatro Máquina é um grupo muito próximo a mim e no qual acredito bastante. Penso também que “Ivanov” oferece ao grupo uma dimensão não tão hermética quanto espetáculos anteriores, como “Repéter” (2007/2009) e “O Cantil” (2008), e o melhor disso é que o coletivo não abriu mão de sua aprofundada pesquisa de linguagem e de seus experimentos formais, o que acontece também em seu penúltimo espetáculo “João Botão” (2010). “Ivanov” (2011) diz para mim do amor, do ócio, e que vale a pena ver, fazer, acreditar e transformar o teatro.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Sakura Matsuri – O Jardim das Cerejeiras (Teatro Mimo)




por Walmick Campos

Segue um exercício de crítica e análise, onde apresento as impressões e sensações a mim transmitidas pelo espetáculo Sakura Matsuri – O Jardim das Cerejeiras, do grupo Teatro Mimo; encenado no dia 11 de outubro no SESC Emiliano Queiroz, dentro da programação do VII Festival de Teatro de Fortaleza.

Em O Jardim das Cerejeiras, Anton Tchekov, conta a história de uma família aristocrática que vive a perda de seus membros e a possibilidade de falência. A venda do grande cerejal da família é uma chance de salvação; mas não hipótese de fácil aceitação, devido ao grande valor sentimental que o envolve.

O espetáculo do Teatro Mimo é uma adaptação corpórea deste jardim, e mais me pareceu um sonho no qual fui inserido enquanto espectador. As imagens, os corpos, a influência Butoh, a luz e os sons me conduziram a isso. A pesquisa é forte e sensível, traz um jogo de oposições que domina a atmosfera. Como é um espetáculo que cresceu a partir do que antes era esquete, há uma diferença de afinação entre suas partes. O que certamente será resolvido ao passo que o espetáculo ganhe mais tempo de vida.

A direção é cuidadosa e muito feliz. Precisa de atenção para que o domínio da técnica não seja superior às sensações que o trabalho é capaz de proporcionar. Há momentos que a repetição de ações chega ao espectador como uma demonstração de habilidade; e não uma expressão sensível.

Os atores são ativos e entregues ao trabalho; porém, a qualidade da execução física possui diferenças. Compreensível, uma vez que os corpos são diferentes por natureza, é o que torna humano; mas a energia não deve ser diferente, como acontece em poucos momentos. Merece destaque o trabalho de Felipe Abreu, Jonathan Pessoa e Tomaz de Aquino. Este último, presente apenas na cena de abertura do espetáculo, e que fascina o olhar do espectador com as formas propostas pelo seu corpo, sob uma luz que salienta sombras e deformidades. Deu vontade de que Tomaz estivesse em mais cenas; e dá a impressão de que isso não acontece em virtude do olhar externo dado por ele enquanto diretor.

A iluminação é linda, valoriza as imagens e traz um clima frio, mesmo com a utilização de cores quentes. No entanto desliza em algumas mudanças sem algo significativo. O figurino - corpos banhados por barro - é perfeito. A trilha é gostosa de ser ouvida, se encaixa lindamente com o que é visto; mas a letra cantada da última música incomoda. O instrumental e o silêncio são mais bem vindos.

Sakura Matsuri – O Jardim das Cerejeiras é um espetáculo muito bonito! Deixou-me com uma imagem onírica por muito tempo na cabeça: o fértil cerejal gritando de dor ao perder seus frutos, da mesma forma que uma mãe padece diante da morte de seus filhos.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O Ceará é a cena. O Interior está em Foco. Black Out no Governo do Estado


por Silvero Pereira
Teve início neste último sábado, dia 08 de Outubro de 2011, o XXII FETAC (Festival de Teatro de Acopiara) que tem sua programação estendida até o próximo dia 15. Uma edição que já começa receoso e com as pernas bambas, devido à falta de apoio no financiamento por parte de seu maior, e que deveria ser o mais interessado na realização deste evento, o Governo do Estado do Ceará com sua, quase inexistente, Secretaria de Cultura. O Festival se propõe a acontecer por motivo de manifestação, por resistência, como prova de sua necessidade ao movimento teatral do interior do nosso Estado, tendo em vista que neste Evento o Ceará é o maior beneficiado, são os municípios que ganham vez, as cidades se preparam um ano para subirem ao palco do teatro do Centro Social de Acopiara e expor suas pesquisas, suas inquietações, suas angústias, suas paixões. Nele, cerca de 800 (oitocentas) pessoas, por dia, são agraciadas com o fazer teatral, genuinamente, do interior do Estado, mas infelizmente o próprio ESTADO não reconhece essa grandiosidade. Por que, para que incentivar o teatro do interior? Por que, para que financiar um festival em Acopiara? Por que, para que dar palco para desconhecidos artistas de mais de 10 (dez) municípios do Ceará? São essas perguntas que me fazem rodar nossas cidades e perceber a construção de um vazio de pensamento, um vazio de humanidade, um vazio de arte, um fazio de progresso.
Sobre a programação do XXII FETAC
Dia 08, sábado
19:00h – D. Zefinha (Itapipoca)/ “O Circo sem tela da Lona furada dos Bufões”
20:30h – Grupo Armadilhas Cênicas (Crato)/ “Em Busca da Terceira Margem”
22:00h – FETAC em Festa. Ingroove (Acopiara) e Gildinho (Cedro)

Dia 09, domingo
19:00h – D. Zefinha (Itapipoca)/ “O Casamento de Tambarim”
20:30h – Cia. Anjos da Alegria (Crato)/ “Dona Patinha vai ser Miss”

Dia 10, segunda-feira
19:00h – Show “Patati Patata Cover” (Crato)
20:30h – Grupo Garajal (Maracanaú)/ “Romeu e Julieta”
21:30h –  Grupo Teatro em Película (Fortaleza)/ “Quando as Galinhas Gemem”

Dia 11, terça-feira
19:00h – Cantigar (Juaz. do Norte)/ Show “Andanças Primeira”
20:30h – Cia. Deus Baco de Teatro (Acopiara)/ “A Triste Partida”
21:30h – Grupo 3X4 de Teatro (Fortaleza)/ Repertório Esquetes

Dia 12, quarta-feira
19:00h – Estilos de rua (Acopiara) / “Riquesas do Ceará”
20:30h – Grupo Damtear (Iguatu) / “As Três Rosas: Manoel, Matraga e Riboaldo”
21:30h – Cia Desabafo de Teatro (Juaz. do Norte) / “A Irmandade Secreta do Boi Santo”
22:00h – FETAC em Festa/ Álvaro Holanda (Barbalha)/ Anderson Justo (Fortaleza)

Dia 13, quinta-feira
19:00h – Cantigar (Juaz. do Norte)/ Show “Andanças Primeira”
20:30h – Marmotas Produções, Luana do Crato (Fortaleza)/ “Branca de Neve: a história que sua mãe não contou”
22:00h – Cia. Argumento (Fortaleza) / “Magno Pirol”


Dia 14, sexta-feira
19:00h – Capoeira (Acopiara)
20:30h – Cia Barafusta (Aquiraz) / “Triiim”
21:30h – Cia. Argumento (Fortaleza) / “Emplasto”
22:00h – FETAC em Festa: Dan Macedo e Djaci Acústico/ Manguaça Shoe de humor (Fortaleza)

Dia 15, sábado
20:00h – Solenidade de Encerramento do XXII FETAC / Premiação
20:30h – Oficart Teatro e Cia. (Russas) / “Cuia”


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

EU... vou contar exatamente como foi.


por Silvero Pereira

“... O ator que se tornar senhor absoluto de si mesmo e de seu ofício banirá o elemento “acidente” de sua profissão e criará uma base sólida para seu talento. Somente um comando indiscutível de seu corpo e de sua psicologia lhe dará a autoconfiança, a liberdade e a harmonia necessárias a sua criatividade. Pois na moderna vida cotidiana não fazemos uso suficiente ou apropriado de nossos corpos e, em consequência, a maioria de nossos músculos torna-se fraca, sem flexibilidade, insensível. Eles devem ser reativados para que não lhes falte elasticidade...”
Michael Chekhov (Para o Ator, pg 06)
O treinamento de um ator parte de seu auto-conhecimento, isso é trivial. A questão maior é que aqui, na nossa cidade, o que se construiu foi à política da hierarquia do diretor. Nós, atores, não estamos acostumados, e com isso muitos até banalizam as práticas de investigação, aos árduos laboratórios corporais/emocionais, aquilo que nos move. Estamos acostumados a iniciar e em três meses estrear, ou seja, queremos os aplausos já, imediatamente. Talvez seja esse um dos maiores motivos que fazem o público pensar várias vezes antes de escolher ir ao teatro, porque os acostumamos a essa situação, a perceberem que não são impulsionados ou alavancados, arrebatados, porque isso nem no espetáculo aconteceu ainda. É preciso viver para fazer, vivenciar para experimentar, experimentar para testar e testar para acontecer ou descartar.
No último fim de semana esteve em cartaz Otelo do Coletivo Cambada. Em cena uma das famosas tragédias de Shakespeare, mas não uma clássica shakespeariana, pois nesta o que existe é uma tragédia doméstica, não estão em questões os problemas nacionais, fantasmas não saem de seus túmulos, não chove sangue, não há alívio cômico, não há subtramas e a ação acontece por meio de reações a um único personagem, Iago. Essa síntese é o primeiro plano da montagem do Cambada, com exceção do alívio cômico que entra, mas ainda sem propriedade suficiente, tímido. A assinatura do diretor João Andrade Joca é evidente nos corpos, na preparação, na composição e nos signos expostos. Entretanto, e fundamental, é a forte presença do próprio Cambada na cena, fortalecendo a nítida percepção da existência do diálogo entre atores e diretor. O espetáculo não é o que se pode chamar de “clean”, ele é “essência”, o que provavelmente tenha sido um dos grandes desafios, pois a dramaturgia é construída muitas vezes na passagem de tempo refletida nos corpos e na utilização da luz, sendo esta última um dos pontos mais altos da encenação. Shakespeare está vivo, é pulsante e em vários momentos ele grita ao público sua existência, sua presença viva. Seu texto é para fechar os olhos, enxergar a alma e chorar, motivo que se faz sair de casa e escolher teatro – a cidade está lá fora, onde tudo acontece. Eu estou aqui dentro, onde tudo ME acontece.
Cambada apresenta uma evolução, uma maturação e talvez, um caminho a ser apontado em próximos trabalhos a partir da consciência dos acertos, das escolhas feitas. O elenco é jovem e isso, às vezes, é um dos incômodos, nos faz sentir falta de mais interno/externo. Entretanto, Walmick Campos faz exatamente o que a história provou sobre esse texto: Iago é a luz de Otelo. Já no conjunto as interpretações funcionam e com grandes bons momentos de emoção, mas falta uma unidade no campo de atuação, como se cada ator estivesse trilhado um caminho de composição e em poucos momentos se encontram. Não há necessidade de destrinchar críticas individuais sobre os atores se ao final o que sobressai é o Grupo, o Coletivo, e isso é um ótimo sinal. O figurino é estranho, tem sua funcionalidade, mas esteticamente é feio, principalmente pelas cores escolhidas. O cenário é o texto, o espaço a favor das imagens a serem criadas as lanternas é a composição espacial, o cenário é o espaço vivo.
Otelo é uma maravilhosa/acertada escolha. Me fez revisitar Shakespeare e assistir Hamlet, Macbeth, Romeu e Julieta. Só lamento ter que ver na TV e não ver no teatro, como vi no Cambada.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

TEATRO MIMO - MULIERES


MIMO A.C. - Sofisticado e Simplificado.
Partindo do laboratório de um ator, fora da sua cidade, a cerca da mímica corporal, o TEATRO MIMO aprofundou e estabeleceu uma estética de encenação e investigação do corpo de forma valiosa e sofisticada. A necessidade de exercitar e praticar acabaram gerando trabalhos pequenos, esquetes, que lhes rederam a atenção dos apreciadores de teatro em Fortaleza. Assim, o Grupo acabou investindo na produção de espetáculos como AS LAVADEIRAS e MULIERES, este último em cartaz no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura sempre as terças de setembro às 20h, com ingressos populares a R$ 2,00 (inteira) e R$ 1,00 (meia).
Em MULIERES o Grupo apresenta sua segunda experimentação em espetáculo, estando agora mais solidificado enquanto grupo e a formação/exercício de novos integrantes. Sua proposta de cena/estética é, já na primeira imagem, curiosa e enigmática, proporcionando uma leitura pessoal dos corpos e das ações. Uma belíssima imagem, e talvez a mais encantadora de todo o espetáculo, é a aranha composta por três atores a fim de representarem as moiras e o fio da vida. É essa leitura, essa imagem e possibilidade que nos é dado no início do trabalho como convite ao que virá depois, essa sofisticação do corpo e da imagem. Entretanto, isso não acontece, ao serem reveladas as próximas cenas o espetáculo vai perdendo sua força enquanto estética e exploração do corpo para uma dramaturgia aristotélica simplificada, o texto não tem a mesma força que os quadros imagéticos oferecidos. Trata-se de mais uma história de começo, meio e fim que contrasta com a direção das cenas. Alguns corpos ainda estão desconfortáveis em cena e sem o tônus necessário para algumas manobras, salve aqui os trabalhos de Jonathan Pessoa, Felipe Abreu e Rafaela Diógenes. Outro ponto que incomoda no texto são as inserções de humor, que popularizam o espetáculo, causam alívio cômico, mas as vezes agridem e fazem perder a beleza. Um exemplo de popularizar e manter a beleza é quando fazem uso do “cotoco”, que aproxima, mas em seguida, sacralizam o gesto. Já, em contraponto, quando se vê cenas desnecessárias como a canção de Jennifer Lopez.
MULIERES é um belo trabalho e nos faz sair do teatro com uma boa sensação, mas também saímos do teatro com a sensação de apreciação de exercícios, pois estes estão muito evidentes, crus, sem a absorção dos mesmos para sua reconstrução a partir das cenas. Além da sensação de que podíamos ter ficado menos tempo no teatro, já que algumas cenas, aparentemente, servem para expor os exercícios e ainda fazer o público entende-lo aristotelicamente e algumas “colas” ainda não estão bem definida para o andamento do ritmo do espetáculo.

MIMO D.C. – Sofisticado e Avançado
Um outro trabalho do MIMO me chama a atenção é SAKURA MATSURI: O JARDIM DAS CEREJEIRAS. Essa atenção é dada, principalmente, pelo oposto de tudo que é dito acima. Neste espetáculo o Grupo investe na dramaturgia contemporânea/pós-dramática, os exercícios são meio e não fim, o espectador tem a possibilidade de fabular junto a história, é o fenômeno teatral de construção conjunta, o público interagindo, passivamente, mas contribuindo com a história contada, abrindo um leque de opções, de textos que varam de acordo com a percepção, estado de humor e referências de cada espectador. SAKURA só deixa a desejar na trilha sonora, que, comparado aos outros trabalhos, ainda nos remete a trilhas de filmes orientais (a importância de uma trilha original). Entretanto, é um salto de qualidade, de aperfeiçoamento em técnicas corporais, em direção, em dramaturgia e estética.
                                                                                                                                     
                                                                                                                                              por Silvero Pereira

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

E se eu me esquecesse que sou ator?

Por Danilo Castro (http://odanilocastro.blogspot.com/2011/08/e-se-eu-me-esquecesse-que-sou-ator.html)

“...o artista do teatro é o ator. Mas o ator tem que se conscientizar de que é um Cristo da humanidade e que seu talento é muito mais uma condenação do que uma dádiva”


Plínio Marcos
 
É um espetáculo de atores. Esfaceladamente teatral, algo que particularmente me atrai bastante. Com características tipicamente brechtianas. Um espetáculo onde o teatro é mostrado ao avesso, onde público está em palco, onde atores não se escondem em coxias, onde não se pretende criar a ilusão dramática da realidade. Mas atores precisam esquecer do seu ofício em cena, precisam apenas viver o que suas personas necessitam. Isso não é fácil. Fazer aquilo como se nunca houvesse sido feito antes, deixar algo que está meticulosamente codificado ser fluido como se nunca houvesse sido dito/encenado antes é tarefa básica, mas, por vezes, árdua na arte de ator.

O espetáculo “E se...”, da turma noite 2011 do Curso Princípios Básicos de Teatro, (CPBT) tem uma concepção interessantíssima, atraente, madura. Cenário, iluminação e sonoplastia caminham unidos, como se tivessem a mesma força, mas acredito que ainda é possível explorar mais da teatralidade cenográfica das folhas de papel, dos pinceis, dos riscos, dos desenhos em cena. São idéias ótimas que ainda podem e devem se redescobrir.

A direção de Silvero Pereira é evidente nas cenas fortes, densas, doloridas, conflituosas, pesadas, mas que perdem com a pré-maturidade dos atores que, por vezes, não possuem as vísceras, a dor, a força que as cenas exigem. Creio que é preciso chão. Estrada. Tempo para maturação de um belo objeto estético criado durante do curso. O caminho não está errado. Os atores são disponíveis, mas ainda é preciso mais, muito mais até que para além de atores seja possível enxergar suas personagens vivendo em cena.

Há destaques no elenco, Cássia Roberta (Marina) é um deles. Sua segurança e precisão em cena fazem-na capaz de carregar a complexidade que as cenas pedem. Seu trabalho me chamou a atenção talvez também por algo subjetivo que me apregoou os olhos em sua figura e defino aqui como élan. Grotowski (Em Busca de um Teatro Pobre - 1965) fala que no teatro pobre, longe de pompas cenográficas, excessos com iluminação e indumentárias, é essencialmente preciso que o ator deixe aflorar a “luz espiritual” e não se preocupe em “atuar”.

O trabalho musical, com direção de Angela Moura, é envolvente, vozes que se unem e conquistam a cena, fisgam o público que se deixa levar em coro. Apenas solistas precisam trabalhar mais. Cantar não é impossível, mas quando se erra no canto, muito facilmente o erro se evidencia, não dá pra fugir, corrigir, por isso é preciso mais trabalho, mais consciência vocal para segurar a cena da maneira como ela se propõe.

O roteiro, diferentemente de Mixórdia, apesar de também trazer reflexões do fazer artístico, traz isso de maneira mais profunda, mais intensa. O teatro é analisado e inserido na dramaturgia com menos superficialidade. E fico feliz em saber que o roteiro é coletivo e que foi gerado um bom fruto, com histórias bem emaranhadas, nessa união.

Eu me pergunto o quanto ganharíamos se esquecêssemos que somos atores. Quando brigamos, quando gritamos, quando damos um tapa não pensamos por que estamos fazendo aquilo. Simplesmente o fazemos, a reflexão é um momento posterior. Na cena, é preciso fazer como na vida. É preciso bater em si antes de bater no outro, gritar com o corpo todo e não só com a garganta, entregar-se como num pulo no abismo, um caminho sem volta. Sem a renúncia de si e da consciência técnica que o teatro exige, isso nunca será possível. É paradoxal, mas necessário.

Desejo que o espetáculo deslanche pela nossa cidade e que viva por longas datas, fugindo do que normalmente acontece com espetáculos de conclusão de curso. Que o teatro abrace esses novos atores e que esse novos atores permitam-se ao teatro, permitam-se à Luz que Grotowski clama.

domingo, 24 de julho de 2011

Clowns de Shakespeare no Festival de Inverno

Pela terceira no Festival, o grupo Clowns de Shakespeare marcam presença com seus dois novos espetáculos: Sua incelença Ricardo Terceiro e O Capitão e Sereia.

Concebido para a rua e sob a direção de Gabriel Villela, o grupo natalense não fez feio. Mostrou uma obra reduzida do dramaturgo inglês, mas completa em sua narrativa. Nos primeiros minutos, o espetáculo já levava o público para dentro de sua arena o que no frio do Sudeste, aqueceu-nos com o calor jocoso do Nordeste. Muito jogo, alegoria, diversão e zelo, característica técnica primordial no trabalho do grupo. Os atores em cena, divertiam-se e como num efeito dominó, divertiam também a platéia. Mix de linguagens e estéticas, mas tudo muito consciente e complementar.

Quando tudo estava indo muito bem, queda da tensão e o espetáculo fora interrompido, pois o mesmo tem música ao vivo e seria impossível continuar. Parabéns para a sensatez de Hernani Maleta, coordenado do evento, e de Fernando Yamamoto, diretor do Clowns, em terem interrompido o espetáculo para não comprometerem a sua incelença.

Pane resolvida. Atores na arena e o que vimos, foram atores conscientes de suas potencialidades, resgatando o espetáculo de onde parara e com um pico de energia tão bom quanto antes, embriagando-nos com seus diálogos, linguagens e estética.

Boas jornadas ao espetáculo e espero que em breve ele aponte pelas terras alencarinas.

Tomaz de Aquino

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Ópera, do Malandro?


Em sua mais nova montagem de conclusão de turma, e sendo sua primeira com o título de Licenciatura em Artes Cênicas, o IFCE apresenta um espetáculo que agrega alunos e ex-alunos numa mistura simpática e divertida. Quem assina a direção é Thiago Arrais e com essa assinatura o que menos se espera é respeito ao local que acolhe, o que não seria desrespeito, mas sim, transgressão. Entretanto, isso não acontece. Arrais é quase limitado ao tradicional palco italiano, salvo pelas sofridas cenas de platéia, ao mesmo tempo em que agrada na sensação dessa transgressão chegar a um espaço tão nobre na cidade. Sua encenação territorializa o espectador, deixa-o próximo à história, assim como sua críticas ao burguês de dentro da burguesia (ViaSul) e sua inov-renov-atuliz -ação da peça seja no cenário, como figurinos, inserções metropolitanas e mídia.
Trata-se de um espetáculo de conclusão, que tem um peso enorme por conta dos 04 anos de dedicação a este ofício, mas que em diversas vezes fica evidente a escola e é necessário dar o desconto nas exigências de interpretação, com exceção de trabalhos como Liliana Brizeno (a princípio irreconhecível, e sua maravilhosa interpretação em “Terezinha”), Marina Brito (sua avassaladora Margô, lembrando até interpretações como Patrícia Selonk do Grupo Armazém), José Saruby (sua presença e entonações) e Angela Moura (de impagáveis bons momentos). Outro ponto alto do espetáculo é a direção vocal encabeçada pelo respeitado Luiz Carlos Prata, pois percebe-se claramente o cuidado com o cantar, com o gênero musical, dando, inclusive, a sensação de que nossos musicais, a partir daí, estão percebendo a diferença entre “gostar de cantar e levar ao palco” e “aprender a cantar e fazer musicais”. Ressaltando, também, a direção musical realizada por Ayrton Pessoa, principalmente, seu manguebeat para a música "Geni e o Zepelim". Já as coreografias deixam a desejar, principalmente quando vemos claramente atores que apenas cumprem os passos marcados e, lamentavelmente, a canção final entre Margô e o Malandro que chega a beirar musicais como GLEE.
A produção deste trabalho merece um destaque em especial, pois cumpre com profissionalismo todas as suas funções. A direção e as canções fazem o espectador relaxar durante duas horas e meia de espetáculo, aguardando a próxima música com ansiedade. É divertido, mas falta-lhe duas coisas essenciais: uma Geni e , principalmente, um Malandro.
 Por Silvero Pereira


Temporada o espetáculo “Ópera do Malandro"
dias 26 e 28 de julho (terças e quintas), sempre às 20h
no Teatro Via Sul (Shopping Via Sul, Av. Washington Soares, 4335, Sapiranga – tel: 3404-4027)
entrada: r$10 e r$20
mais info: www.operadomalandroifce.com
(85)8534-3134 (falar com Dhyego Martins)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mulheres que Matam Galinhas

por Andrei Bessa




Fui ao espetáculo curioso com o título. Que mulheres seriam essas? Esperava algo sangrento. Mulheres sem almas. Mulheres guerreiras. Que espanto meu ao me deparar que essas mulheres estava bem mais próximas do que imaginava. Ponto positivo. Aliás, o argumento do espetáculo, as mulheres que homenageiam, é o ponto mais rico e que mais merece destaque. Sim, o espetáculo fala de mulheres guerreiras, mas em outro sentido e outra força poética, simples e certeiro. A simplicidade do que o espetáculo se propõe é percebida de imediato. 

Algumas imagens bem estabelecidas e ricas de significados salvam a lentidão e a monotonia que se estabelece em quase todo o espetáculo. Aliás, imagens essas que nos permitem viajar internamente. Viagem positiva e negativa. A arte serve para isso, para nos preencher. Quando estamos diante de um quadro, ficamos parados o tempo que acharmos necessário. Somos os donos do tempo. Quanto mais forte o que vemos, mais tempo precisamos para degustar. Um processo extremamente individual - pessoas passam segundos em frente a quadros que outros passam horas. No teatro não é assim. O ponteiro do relógio gira ao mesmo tempo para todos. Por isso é necessário haver uma preocupação de não deixar com que o espectador se pergunte porque não está em casa, devidamente acomodado em sua poltrona.

A dramaturgia é interessante, os recortes feitos aparentemente sem pretensões são quase precisos. O tom de interpretação que o espetáculo pede é extremamente instigador - uma pena que nem todas as atrizes conseguem chegar no tom ideal durante o espetáculo. De uma forma geral, Ana Luiza Rios destaca-se  de suas companheiras. Ela parece estar mais a vontade na troca com o público, no texto e nas nuanças necessárias para dar vida as diversas mulheres que perpassa. Ângela Soares dá vida uma Medéia mais contida e por vezes quase infantil, visão interessante e surpreende sobre a personagem. Mas a mesma atriz não me parece a vontade em fazer de si personagem. Aliás, essa é uma das maiores dificuldades dos atores em geral: deixar os personagens de lado e se assumir em cena. Dificuldade de todas as atrizes do espetáculo (cada uma em níveis diferentes). Aline Silva me parece a mais perdida em cena. Não se mostra e não mostra grandes diferenças dos trabalhos anteriores - salvo algumas imagens que propõe. 

O que falar da direção de um homem num espetáculo tão feminino? O que falar da direção num espetáculo que dá foco ao trabalho de ator? Não sei muito bem o que comentar sobre o trabalho de Murilo Ramos. Apenas que se faz nítida boas escolhas. Felizes escolhas de imagens, de trabalho de energia, de uma receita de canja de galinha. Mulheres que matam galinhas é um espetáculo para se degustar. 

Ajustes de tempo e ritmo se faz durante as apresentações. É natural que um espetáculo recém estreado ter algumas ajustes a se fazer. É como um vestido. Ele pode ser medido e calculado friamente. Podemos colocar em manequins, para ajustar alguns pontos. Podemos até experimentar para saber se ainda há algo a se mexer. Mas para haver o caimento perfeito, é necessário que a pessoa que vai utilizá-lo experimente. Não se acha uma costureira mágica que sabe fazer um vestido perfeito sem fazer a prova. Assim como não se acha espetáculo que estréia no molde e no corte perfeitamente.

Por isso, desejo vida longa a essas mulheres. Infelizmente, não tenho notícias de quando o espetáculo volta em cartaz. Espero que seja logo, ele precisa circular mais, conviver mais, trocar mais energia, ouvir mais. É fazendo teatro que o teatro é bem feito.

domingo, 12 de junho de 2011

É TEMPO DE VISITAR A ALDEIA

(Ser e não ser apenas sede. Ter e não ter espaço para fazer teatro, para ensaiar. Saber e não saber produzir o seu espaço. Transformá-lo em local para todos usufruírem, sejam atores, pesquisadores ou espectadores. Surge com muita força, na mão certa, a ALDEIA EXPRESSÕES (Barão de Aratanha, nº 605, quase esquina com Domingos Olímpio). Um espaço que recebe bem, parece a casa de um grande amigo, cada integrante com o seu afazer/colaboração na crença de que assim se constrói um Grupo de Teatro, na cooperação. Espaço bem gerenciado, com cheiro de história e luta pela arte, aconchegante e com o ar de promessa. Espaço que produz, mostra e recebe produções. Espaço a ser divulgado,a ser procurado, a ser valorizado. Já!)
Neste último domingo (12/06/11) encerrou a temporada do Infantil DOM PODER E A REVOLTA DA NATUREZA do Grupo Expressões Humanas sob o comando da diretora Herê Aquino. O espetáculo traz as marcas estéticas do Grupo quando de início instala o ritual, o convite a entrar no mundo mágico, com músicas de encantar a alma. As canções são maravilhosas, com melodias fáceis e convidativas. Os atores estão afinados, um belíssimo coro. Entretanto, estas mesmas vozes não se encontram durante os momentos de texto. Isso acontece por conta do espaço (Teatrinho da Oca) que é pequeno demais para o volume a ser explorado pelos atores, às vezes fica tão gritado que começamos a ficar incomodados (uma criança, durante vários momentos, tapava os ouvidos). Salvo o trabalho de Felipe Franco, seja vocal, quando explora todos os volumes, tons e sussurros, seja na construção da personagem que trás  uma composição quase desenho-animado, se não fosse real. Já os outros atores chegam forçados na interpretação e na interação, não há química em vários diálogos, os corpos são desenhados na cena como marcas impostas e não como apropriadas, digeridas e prontas para brincar. A direção é muito presente, tem muita força na cena, o que às vezes faz o elenco, nitidamente, obedecer. Os figurinos não traduzem o universo a ser explorado, diante da belíssima composição musical (voz e percussão) são frágeis, inacabados, re-utilizados. Ali a reciclagem não funciona, pois mesmo cuidadoso, principalmente conhecendo o trabalho do Expressões, as composições não demonstram finalizações. O texto é atual no tema, mas datado na dramaturgia, em certos diálogos fica explícito um texto de moralidade que não são teatralizados, mas didáticos (ao extremo). Entretanto, tirando algumas questões técnicas mencionadas acima, que mais vale para por em debate do que para apreciação, do que para o público alvo, as crianças, nisso ele acerta em cheio, pois elas entram, se deixam levar, querem participar, entrar na ciranda e ser atuante. É neste ponto que o espetáculo se instala, pois nós, adultos, fomos ver teatro infantil e nos deparamos com atores-crianças-atores e saímos do espaço leves e felizes por uma hora de magia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Projeto reúne Literatura e Teatro (fonte Diário do Nordeste - 08/06/11)

O II ciclo de Leituras Cínicas envolve crianças e adolescentes com a apresentação de vários textos
FOTO: DIVULGAÇÃO


Esta é a segunda edição do projeto, que beneficia atores sociais, de 9 a 17 anos, no Município de Tauá
Tauá Hoje, a Cia. Artes Cínicas de Teatro apresenta a obra dramatúrgica "As Bondosas", em sessão única no pavilhão da Escola Estadual de Educação Profissional Monsenhor Odorico de Andrade, neste Município, tendo como público os alunos da Escola e a comunidade em geral. A apresentação do texto inicia às 20h e faz parte do II Ciclo de Leituras Cínicas, apoiado pela Secretaria Municipal de Cultura. Esta é a segunda edição do projeto, que beneficia atores sociais, de 9 a 17 anos, participantes de atividades em espaços culturais e educacionais em Tauá.

"O Ciclo de Leituras envolve as crianças e adolescentes que apreciam a arte e que já fazem parte das atividades mantidas pela esfera pública aqui na cidade", diz o produtor, Gilmar Costa. Segundo ele, o I Ciclo de Leituras Cínicas surgiu como uma possibilidade de articular literatura e teatro, uma vez que em seu interior são trabalhadas leituras dramáticas de textos teatrais da dramaturgia cearense e nordestina que tem como marca a comicidade. "As leituras dramáticas são eficazes instrumentos para se formar público leitor e apreciador do fazer teatral", garante o produtor. Acrescenta, ainda, que o público aumenta a cada apresentação, alcançando assim outra meta do projeto, que é a formação de plateia. "As apresentações, inclusive, são sempre gratuitas, para facilitar esse objetivo", diz.

As Leituras Dramáticas se traduzem como o limiar entre a literatura e o teatro. Daí, ao realizar o evento este ano, a Companhia se propõe a trabalhar com diversificados textos teatrais integrantes da dramaturgia cearense e nordestina. Depois das leituras dramáticas são realizadas conversas formativas entre os atores e o público, com o intuito de favorecer ao último a narratividade de suas impressões sobre as leituras dramáticas e o fazer teatral como um todo, sob a mediação de Gilmar Costa. "É uma oportunidade de interação com o público", salienta Gilmar.

Selecionados
Para esta edição, foram selecionados três textos: "A Farsa de Romeu e Julieta", de José Mapurunga, "As Bondosas", de Ueliton Rocon e "As artimanhas de Simão ou O Causo dos Dotes", de Márcia Oliveira. Trabalhadas em sequência, as leituras dramáticas são previamente ensaiadas, envolvendo no elenco 11 atores e três músicos. O grupo já concluiu os trabalhos com o texto "A Farsa de Romeu e Julieta". A cenografia será montada em todo o pavilhão.

MAIS INFORMAÇÕES
Artes Cínicas
www.artescinicasdeteatro.com
Município de Tauá
Telefone: (88) 9915.8406

domingo, 5 de junho de 2011

GRUPO TEATRO MÁQUINA - IVANOV


Este espaço foi construído com a idéia de expor opiniões, com o objetivo de fazer o Teatro sair dos poucos espaços que possuímos e fazê-lo vivo no dia a dia, na nossa cabeça, nos nossos pensamentos, nas discussões entre amigos. Torná-lo maior. Assim, começo a partir da experiência vivida ontem no Teatro SESC Iracema com o Grupo Teatro Máquina em seu mais recente trabalho:

PARA AMAR TCHÉKHOV ou E NADA MAIS INTERESSA

A primeira imagem é limpa e depressiva, uma trilha (Ayrton Pessoa Bob) capaz de provocar imersão e estranheza, alías este é o espaço, faz ter a sensação de que estamos diante de uma atmosfera tipo filmes Lars Von Trier. Depressão é o que se constata em todos os atores-personagens, seja na respiração, nas partituras corporais, nos olhos (Nossa! Que olhos), na voz, e na cor da arte. Edvaldo Batista está magnífico, sua naturalidade neste processo é provocada por uma consciência de todas as suas ações e de todos os seus sentidos na cena. Ana Luiza Rios é hipnotizante, bela e submersa em sua delicada e apaixonada Anna, seus olhos são uma mistura de amor, perda, angústia e crença. Bruno Lobo é uma explosão contida, um vulcão em erupção, mas o que vemos por fora é o quente pulsante e não a lava, está tudo dentro, prestes a explodir e são seus olhos que cospem esse calor, uma energia em cena invejável na certeza de que as vezes o mínimo supera o máximo do ator. Loreta Dialla é outro exemplo de simplicidade e força, sua presença é tão necessária, tão provocante que nos deixa constrangidos, seu simples tremor da bandeja de copos diz mais que mil palavras. Aline Silva tem, além de sua esplêndida beleza, um corpo e um sentido para a cena como se Tchékhov fosse sua área de conforto. Já Levy Mota deixa a desejar, sua presença é desconfortável, seus gestos são imprecisos e marcados, o que faz destacá-lo da unidade de interpretação e preparação corporal do restante do elenco. Frederico Teixeira constrói um cenário, que apesar da madeira, tem uma imagem leve, talvez provocada pelas cortinas brancas e transparentes e pelas rodas de acrílico que permitem vê-lo deslizar sem esforço, e pelo cru, a madeira trabalhada, além da floresta em um tom melancólico. A direção é clean e precisa, Fran Teixeira desenha uma movimentação que explora tanto o espaço da cena como a cena-bastidor, além de fazer o cenário ser dramaturgia, ele dialoga com Tchékhov, com o MAQUINA e com o espectador. Não existe marcação, mas sim uma apropriação de idéias (Anna tirando as folhas secas de cima da mesa). A direção sabe não se anular, mas se enraizar nos atores para a partir deles ter espaço no espetáculo. A luz (Walter Façanha) é signo, é espaço, é texto. O tempo é imperceptível, pois estamos ali para viver e não para apreciar, e isso é quase inacreditável. O tédio é provocado pela vida e não pela arte.

O Grupo de Teatro Máquina mostra um novo caminho tomado. É nítido seu crescimento profissional na produção, na técnica, no trabalho do ator, na sua linguagem. Isso, provavelmente, é resultado da possibilidade, e da importância, de projetos de manutenção, de sede própria, de patrocínio e de intercâmbio.

Temporada IVANOV - Fortaleza (CE)
Ivanov

Fortaleza - CE
Todas as Quintas, sábados e domingos de Junho.
no Teatro do SESC SENAC Iracema.
Sempre às 20h.
Ingressos: R$16/8

http://diarioivanov.wordpress.com/

terça-feira, 31 de maio de 2011

o que fazer desses restos?: sim, não: talvez


Advérbio, classe gramatical invariável; palavra que modifica o verbo ou adjetivo ou outro advérbio. Sim: advérbio de afirmação. Não: advérbio de negação. Talvez: advérbio de dúvida.

Três pilares das certezas e incertezas das relações humanas. Podemos perceber, aqui, inicialmente, a pontuação. Aquele recurso que utilizamos na língua escrita para expressar o ritmo e melodia da língua falada. Vírgula: pausa curta. Ponto e vírgula: pausa não tão curta, o período ainda vai ser completado. Dois pontos: um esclarecimento. Ponto final: pausa longa, muito longa. O fim do período, ou seja, seu sentido está completo, sendo mais claro, acabou. Temos outros sinais gráficos, as interrogações, exclamações etc, mas creio que estes bastem no momento.

Não podemos esquecer a preposição, aquela palavra, também invariável, que liga dois elementos de uma orcação: a, ante, até, após, com, contra, desde, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás. (Creio que ainda sejam essas, as preposições aprendidas na 7ª série). Entre. A relação está entre os advérbios ou Entre na minha vida!

Por que a invariabilidade nas relações? E a variação? A aceitação? A penetração no âmago do outro? Porosidade? Efeito teflon?[1] As relações efêmeras. Instalações efêmeras. Passagens. Misturas. Doação. Instalação, performance, teatro, dança, relação. Relações humano-sócio-culturais. Relações. O que são? O que é cada uma dessas artes? E dessas pessoas? Precisamos nos apegar a conceitos para aceitar a arte e ao amor? Encontros e desencontros repletos de talvez, de sins e nãos. De SIM, NÃO: TALVEZ.

Um tempo... "as avessas” na seda de um papel.

No abismo do olhar do outro.

Na Solidão da ilha de cada um.

Então, o que fazer com os restos?[2]

Com a imagem de um homem na janela, dos apartamentos de uma metrópole, preso em seus conflitos, em seu universo pessoal, e uma mulher jogada ao chão encoberta por suas mágoas,sim, não: talvez, abre gestalts em um mundo em constante de-vir das relações e suas efemeridades. Valoriza os opostos dessas relações em sua concepção e movimentação. Oposição. Os opostos se atraem. Para ficar em pé, o homem está em constante oposição. Conflito eternoentre a gravidade e a linha de equilíbrio vertical. Oposição. Princípio constante. Barba[3]defende esse princípio como um dos geradores do estado de presença e, assim, alcançar o corpo decidido e, portanto, crível.

Cremos naqueles intérpretes que dilataram seus corpos e expandiram sua presença pelo espaço contagiando-nos com a beleza de uma oposição poética e lírica; forte e densa. Novamente a dança das oposições presentes em todas as relações. A vida. Oposta. Oposição.

Certas coisas

Composição: Nelson Motta e Lulu Santos

Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz

Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...


Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...


Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...


A vida é mesmo assim,
Dia e noite, NÃO, SIM: TALVEZ.


Delicie-se com cartola:



O Mundo é um moinho

Composição: Cartola


Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar


Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és


Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho.
Vai reduzir as ilusões a pó


Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés


[1] Conceitos de Tereza Rocha

[2] Texto disto pelos intérpretes criadores

C[3] Eugenio Barba, teatrólogo


Tomaz de Aquino

segunda-feira, 9 de maio de 2011

PROMOVER A DISCUSSÃO

Este é um espaço criado a partir de conversas entre artistas de teatro no Ceará sobre a necessidade de dialogar acerca dos projetos de encenação em cartaz na cidade, mais especificamente montagens cearenses. Entretanto, aqui devem ser expostos trabalhos em Artes Cênicas tanto do nosso Estado, como espetáculos que realizem apresentações e temporadas nele e que sejam considerados importantes para levantar questões no fazer da arte. Abrindo espaço, também, para crítica à eventos como Festivais de Teatro, Mostra de Repertório e Seminários.

Um Grupo de Atores, Diretores, Bailarinos e Coreografos terão acesso ao Blog como criticos em exercício, pos este espaço também foi construído com objetivo de exercitar a CRÍTICA ARTÍSTICA. Mas, os visitantes podem enviar comentários tanto sobre os espetáculos já avaliados no Blog, como exercitar sua própria crítica, contribuindo assim para uma visão mais ampla de teatro no Ceará, oportunizando aos Grupos do Interior entrarem nesta discussão.

Esperamos contar com o apoio de todos