domingo, 5 de junho de 2011

GRUPO TEATRO MÁQUINA - IVANOV


Este espaço foi construído com a idéia de expor opiniões, com o objetivo de fazer o Teatro sair dos poucos espaços que possuímos e fazê-lo vivo no dia a dia, na nossa cabeça, nos nossos pensamentos, nas discussões entre amigos. Torná-lo maior. Assim, começo a partir da experiência vivida ontem no Teatro SESC Iracema com o Grupo Teatro Máquina em seu mais recente trabalho:

PARA AMAR TCHÉKHOV ou E NADA MAIS INTERESSA

A primeira imagem é limpa e depressiva, uma trilha (Ayrton Pessoa Bob) capaz de provocar imersão e estranheza, alías este é o espaço, faz ter a sensação de que estamos diante de uma atmosfera tipo filmes Lars Von Trier. Depressão é o que se constata em todos os atores-personagens, seja na respiração, nas partituras corporais, nos olhos (Nossa! Que olhos), na voz, e na cor da arte. Edvaldo Batista está magnífico, sua naturalidade neste processo é provocada por uma consciência de todas as suas ações e de todos os seus sentidos na cena. Ana Luiza Rios é hipnotizante, bela e submersa em sua delicada e apaixonada Anna, seus olhos são uma mistura de amor, perda, angústia e crença. Bruno Lobo é uma explosão contida, um vulcão em erupção, mas o que vemos por fora é o quente pulsante e não a lava, está tudo dentro, prestes a explodir e são seus olhos que cospem esse calor, uma energia em cena invejável na certeza de que as vezes o mínimo supera o máximo do ator. Loreta Dialla é outro exemplo de simplicidade e força, sua presença é tão necessária, tão provocante que nos deixa constrangidos, seu simples tremor da bandeja de copos diz mais que mil palavras. Aline Silva tem, além de sua esplêndida beleza, um corpo e um sentido para a cena como se Tchékhov fosse sua área de conforto. Já Levy Mota deixa a desejar, sua presença é desconfortável, seus gestos são imprecisos e marcados, o que faz destacá-lo da unidade de interpretação e preparação corporal do restante do elenco. Frederico Teixeira constrói um cenário, que apesar da madeira, tem uma imagem leve, talvez provocada pelas cortinas brancas e transparentes e pelas rodas de acrílico que permitem vê-lo deslizar sem esforço, e pelo cru, a madeira trabalhada, além da floresta em um tom melancólico. A direção é clean e precisa, Fran Teixeira desenha uma movimentação que explora tanto o espaço da cena como a cena-bastidor, além de fazer o cenário ser dramaturgia, ele dialoga com Tchékhov, com o MAQUINA e com o espectador. Não existe marcação, mas sim uma apropriação de idéias (Anna tirando as folhas secas de cima da mesa). A direção sabe não se anular, mas se enraizar nos atores para a partir deles ter espaço no espetáculo. A luz (Walter Façanha) é signo, é espaço, é texto. O tempo é imperceptível, pois estamos ali para viver e não para apreciar, e isso é quase inacreditável. O tédio é provocado pela vida e não pela arte.

O Grupo de Teatro Máquina mostra um novo caminho tomado. É nítido seu crescimento profissional na produção, na técnica, no trabalho do ator, na sua linguagem. Isso, provavelmente, é resultado da possibilidade, e da importância, de projetos de manutenção, de sede própria, de patrocínio e de intercâmbio.

Temporada IVANOV - Fortaleza (CE)
Ivanov

Fortaleza - CE
Todas as Quintas, sábados e domingos de Junho.
no Teatro do SESC SENAC Iracema.
Sempre às 20h.
Ingressos: R$16/8

http://diarioivanov.wordpress.com/

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