quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mulheres que Matam Galinhas

por Andrei Bessa




Fui ao espetáculo curioso com o título. Que mulheres seriam essas? Esperava algo sangrento. Mulheres sem almas. Mulheres guerreiras. Que espanto meu ao me deparar que essas mulheres estava bem mais próximas do que imaginava. Ponto positivo. Aliás, o argumento do espetáculo, as mulheres que homenageiam, é o ponto mais rico e que mais merece destaque. Sim, o espetáculo fala de mulheres guerreiras, mas em outro sentido e outra força poética, simples e certeiro. A simplicidade do que o espetáculo se propõe é percebida de imediato. 

Algumas imagens bem estabelecidas e ricas de significados salvam a lentidão e a monotonia que se estabelece em quase todo o espetáculo. Aliás, imagens essas que nos permitem viajar internamente. Viagem positiva e negativa. A arte serve para isso, para nos preencher. Quando estamos diante de um quadro, ficamos parados o tempo que acharmos necessário. Somos os donos do tempo. Quanto mais forte o que vemos, mais tempo precisamos para degustar. Um processo extremamente individual - pessoas passam segundos em frente a quadros que outros passam horas. No teatro não é assim. O ponteiro do relógio gira ao mesmo tempo para todos. Por isso é necessário haver uma preocupação de não deixar com que o espectador se pergunte porque não está em casa, devidamente acomodado em sua poltrona.

A dramaturgia é interessante, os recortes feitos aparentemente sem pretensões são quase precisos. O tom de interpretação que o espetáculo pede é extremamente instigador - uma pena que nem todas as atrizes conseguem chegar no tom ideal durante o espetáculo. De uma forma geral, Ana Luiza Rios destaca-se  de suas companheiras. Ela parece estar mais a vontade na troca com o público, no texto e nas nuanças necessárias para dar vida as diversas mulheres que perpassa. Ângela Soares dá vida uma Medéia mais contida e por vezes quase infantil, visão interessante e surpreende sobre a personagem. Mas a mesma atriz não me parece a vontade em fazer de si personagem. Aliás, essa é uma das maiores dificuldades dos atores em geral: deixar os personagens de lado e se assumir em cena. Dificuldade de todas as atrizes do espetáculo (cada uma em níveis diferentes). Aline Silva me parece a mais perdida em cena. Não se mostra e não mostra grandes diferenças dos trabalhos anteriores - salvo algumas imagens que propõe. 

O que falar da direção de um homem num espetáculo tão feminino? O que falar da direção num espetáculo que dá foco ao trabalho de ator? Não sei muito bem o que comentar sobre o trabalho de Murilo Ramos. Apenas que se faz nítida boas escolhas. Felizes escolhas de imagens, de trabalho de energia, de uma receita de canja de galinha. Mulheres que matam galinhas é um espetáculo para se degustar. 

Ajustes de tempo e ritmo se faz durante as apresentações. É natural que um espetáculo recém estreado ter algumas ajustes a se fazer. É como um vestido. Ele pode ser medido e calculado friamente. Podemos colocar em manequins, para ajustar alguns pontos. Podemos até experimentar para saber se ainda há algo a se mexer. Mas para haver o caimento perfeito, é necessário que a pessoa que vai utilizá-lo experimente. Não se acha uma costureira mágica que sabe fazer um vestido perfeito sem fazer a prova. Assim como não se acha espetáculo que estréia no molde e no corte perfeitamente.

Por isso, desejo vida longa a essas mulheres. Infelizmente, não tenho notícias de quando o espetáculo volta em cartaz. Espero que seja logo, ele precisa circular mais, conviver mais, trocar mais energia, ouvir mais. É fazendo teatro que o teatro é bem feito.

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