MIMO A.C. - Sofisticado e Simplificado.
Partindo do laboratório de um ator, fora da sua cidade, a cerca da mímica corporal, o TEATRO MIMO aprofundou e estabeleceu uma estética de encenação e investigação do corpo de forma valiosa e sofisticada. A necessidade de exercitar e praticar acabaram gerando trabalhos pequenos, esquetes, que lhes rederam a atenção dos apreciadores de teatro em Fortaleza. Assim, o Grupo acabou investindo na produção de espetáculos como AS LAVADEIRAS e MULIERES, este último em cartaz no teatro do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura sempre as terças de setembro às 20h, com ingressos populares a R$ 2,00 (inteira) e R$ 1,00 (meia).
Em MULIERES o Grupo apresenta sua segunda experimentação em espetáculo, estando agora mais solidificado enquanto grupo e a formação/exercício de novos integrantes. Sua proposta de cena/estética é, já na primeira imagem, curiosa e enigmática, proporcionando uma leitura pessoal dos corpos e das ações. Uma belíssima imagem, e talvez a mais encantadora de todo o espetáculo, é a aranha composta por três atores a fim de representarem as moiras e o fio da vida. É essa leitura, essa imagem e possibilidade que nos é dado no início do trabalho como convite ao que virá depois, essa sofisticação do corpo e da imagem. Entretanto, isso não acontece, ao serem reveladas as próximas cenas o espetáculo vai perdendo sua força enquanto estética e exploração do corpo para uma dramaturgia aristotélica simplificada, o texto não tem a mesma força que os quadros imagéticos oferecidos. Trata-se de mais uma história de começo, meio e fim que contrasta com a direção das cenas. Alguns corpos ainda estão desconfortáveis em cena e sem o tônus necessário para algumas manobras, salve aqui os trabalhos de Jonathan Pessoa, Felipe Abreu e Rafaela Diógenes. Outro ponto que incomoda no texto são as inserções de humor, que popularizam o espetáculo, causam alívio cômico, mas as vezes agridem e fazem perder a beleza. Um exemplo de popularizar e manter a beleza é quando fazem uso do “cotoco”, que aproxima, mas em seguida, sacralizam o gesto. Já, em contraponto, quando se vê cenas desnecessárias como a canção de Jennifer Lopez.
MULIERES é um belo trabalho e nos faz sair do teatro com uma boa sensação, mas também saímos do teatro com a sensação de apreciação de exercícios, pois estes estão muito evidentes, crus, sem a absorção dos mesmos para sua reconstrução a partir das cenas. Além da sensação de que podíamos ter ficado menos tempo no teatro, já que algumas cenas, aparentemente, servem para expor os exercícios e ainda fazer o público entende-lo aristotelicamente e algumas “colas” ainda não estão bem definida para o andamento do ritmo do espetáculo.
MIMO D.C. – Sofisticado e Avançado
Um outro trabalho do MIMO me chama a atenção é SAKURA MATSURI: O JARDIM DAS CEREJEIRAS. Essa atenção é dada, principalmente, pelo oposto de tudo que é dito acima. Neste espetáculo o Grupo investe na dramaturgia contemporânea/pós-dramática, os exercícios são meio e não fim, o espectador tem a possibilidade de fabular junto a história, é o fenômeno teatral de construção conjunta, o público interagindo, passivamente, mas contribuindo com a história contada, abrindo um leque de opções, de textos que varam de acordo com a percepção, estado de humor e referências de cada espectador. SAKURA só deixa a desejar na trilha sonora, que, comparado aos outros trabalhos, ainda nos remete a trilhas de filmes orientais (a importância de uma trilha original). Entretanto, é um salto de qualidade, de aperfeiçoamento em técnicas corporais, em direção, em dramaturgia e estética.